quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

O Senhor Tempo (Capítulo I )

 Tic Tac... Tic tac...

Tic Tac...

Os pensamentos faziam em sua cabeça. Faziam desde sempre e fariam para sempre. Suas mãos velhas e os ossos frágeis doíam. A mudança de temperatura sempre era surpreendente. Os cabelos finos, grisalhos e longos, caíam por cima dos ombros encurvados. O manto que lhe cobria o corpo negro e magro era azul, tão azul e tão intenso quanto alguma coisa pode ser. Em seus detalhes, pequenos pontos dourados vindos do grande primo Sol, que ainda era rei e que por algum tempo ainda reinaria. Apenas os dentes do velho eram intocados por ele mesmo, mas para o resto de si, cada marca no frágil corpo relatava como o tempo passa para o próprio Tempo, que já não queria mais existir, mas que era quem reinava na Terra.

Apesar de não querer mais, não podia simplesmente fechar os olhos, precisava da permissão e, para isso, de alguém para ocupar o seu lugar. Mas já não queria mais esperar, a paciência se fora, mas a ordem nunca vinha. Apenas esperava por ela.

Há séculos decidiu se mudar para uma caverna escondida e que nenhum homem comum, um mortal qualquer, jamais imaginaria onde se localizava. A caverna se estendia por toda extensão subterrânea do planeta, entre túneis e mais túneis que se cruzavam com outras cavernas.  O chão gelado e úmido. As paredes grafite e pétreas. É claro que seriam. Gostava de caminhar por incontáveis horas fingindo estar perdido e fingindo se surpreender quando chegava a algum lugar na superfície. E andava por horas e horas a fio e, quando queria descansar, fechava os olhos e adormecia. O mundo estagnava ao seu bel-prazer e só voltava a girar e os relógios a trabalharem no momento em que Tempo abria de novo os olhos cansados de viver. Há anos perdera a razão de existir, o que era visível em sua aparência idosa e vulnerável.

Como em muitos dias, Tempo saiu andando por aqueles túneis intermináveis, mas desta vez não tentava se enganar sobre o próprio destino. Ia visitar uma velha amiga, se é que ela era amiga de alguém, que morava em um pequeno castelo belga com um lago artificial e quadrado, mas com patos de verdade que faziam questão de voltar todo verão.

– Não esperava que viesse hoje – disse a mulher assim que Tempo entrou no grande salão.

– Preciso da sua ajuda.

– Ainda o mesmo desejo? Você precisa seguir em frente. O tempo é o melhor remédio para curarmos as nossas feridas – e riu da própria piada. A anfitriã tinha a pele branca num tom leitoso em forte contraste com os cabelos e olhos intensamente pretos e que pareciam rir a cada palavra.

– Não estou aqui para as ouvir as suas gracinhas, Morte. Só quero a resposta que sempre me nega.

– Sabe que... Caos também me visitou atrás de uma profecia?! Queria saber do próprio futuro. Ouviu dizer que você está desgostoso e... pela sua aparência, querido amigo rei, acho que os boatos são verdadeiros – disse o olhando de cima a baixo e se aproximou, mostrando os extensos cabelos que roçavam o chão de pedra. – Ele está louco para ter de volta o trono que você roubou ­– sussurrou aos ouvidos de Tempo.

– Não me interessam as aspirações de Caos. Apenas quero a minha resposta. O meu sucessor.

– Sucessora.

– O quê? Sucessora? Não é possível.

– E por que não? Acha mesmo que o grande Tempo, o Tempo Rei não poderia ser enganado por uma mortal qualquer?

– Não fale assim dela, Morte.

– Falo, porque é o que ela é. Não pense que porque você deu tanto de si a ela, a sua querida Morgana virou alguém especial. Ela te enganou. Por todos os anos que você a manteve viva e em segurança, ela apenas mentiu para você. Sua mãe não te ensinou que deuses nunca entregam seus corações a mortais? Eles é que são as peças do jogo, não nós – e parou por alguns segundos encarando o velho que lidava com uma amarga verdade. – Você tem alguém para herdar o seu trono, quem você achou que pertencia a mim, mas em quem eu nunca toquei. Quem te traiu não fui eu. Lilith vive, meu caro amigo, Cronos – e deliciou-se com a dor daquelas palavras.

 

 


            Da entrava da caverna em que Tempo vivia, muitos túneis saíam e levavam a grutas de todos os tamanhos e com funções diferentes. A maior e mais impressionante era a Gruta do Trono. Uma luz azul clara iluminava as paredes de calcário escuro, material de que também era feito o trono ao centro. O rei parecia perdido em meio a pensamentos dolorosos e amargos. Ao lado dele, de pé, uma mulher parecia estar em transe. Com as mãos posicionadas acima de um globo de cristal bruto e esverdeado que flutuava, mas sem o tocar, a mulher sibilava palavras incompreensíveis. De repente, a mulher despertou.

            – Você sempre faz um excelente trabalho, Dia – Tempo elogiou com um sorriso sincero, mas amargurado.

            – Obrigada, senhor. Hoje o céu estará de um azul muito bonito, apesar do frio. Estará lindo.

            – Você sempre acha o céu bonito, Dia, ainda que faça as nuvens desabarem sobre os humanos – intrometeu um homem de roupas escuras como uma noite sem estrelas.

            – A chuva traz a vida, assim como o brilho do sol. Pensei que já tivesse lhe explicado isso, Noite – retrucou a mulher.

            – Trezentas e quarenta e oito – disse Tempo. – E com essa, ela te disse trezentas e quarenta e nove vezes, Noite. Mas não foi para isso que eu chamei vocês. Preciso achar a minha filha.

            – Tempo, Lilith morreu ... – lembrou Noite.

            – ... há séculos – completou Dia.

            – Parece que não. Eu fui enganado. Morgana mentiu para mim.

            – Mas por que ela faria isso? – indagou Dia.

            – Eu não sei. E talvez eu nunca saiba – lamentou. – Mas ela é a nossa esperança contra Caos. Lilith vai me suceder, e quero que vocês a encontrem. Mandem os quatro irem procurar a minha filha.

            – Três, senhor. Em poucas semanas será inverno – corrigiu Noite.

            – Ah, é claro. Os outros três então – concordou o rei. – E a propósito... – lembrou-se de um detalhe – mandem que entreguem isto a ela – e com um gesto de sua mão esquerda, uma caixinha circular de madeira surgiu nas mãos de Dia, e ela sabia exatamente do que se tratava.




sábado, 20 de fevereiro de 2021

inFortunium

Hoje eu acendi um cigarro e apreciei o seu gosto

Acendi porque queria matar alguma parte em mim

Mais uma vez me abandonei no caos que eu sou

Não posso tentar te salvar, porque nunca consegui comigo

Me vi afundar tantas vezes e virei as costas

Andei tanto e acreditei que sabia me guiar

Mas a verdade é que apenas criei mentiras como um familiar.

 

Toda vez que penso em tudo isso,

Percebo que nunca criei raízes

Eu sou apenas galhos de madeira seca

Seca e oca

Por isso, não posso te ajudar.

 

Continuo buscando por alguma coisa real

Nunca a encontro

Parece que guardei tão bem que esqueci seu esconderijo

Eu me flagelo por qualquer um

E agora me torturo por você

E você se tortura por alguém que não sou eu

Por uma dor que eu não causei.

 

Não são culpa sua as minhas ilusões

Meus sonhos são como teias de aranha

Quanto mais tento me desvencilhar, mais eu me prendo

E ao notar, se converteram em pesadelos aqui dentro

E as paredes da minha casa não podem me proteger

As sombras estão aqui.

 


Minha maior inimiga sou eu

Tenho total consciência de tudo

E me permito me perder sempre no mesmo erro.

 

A lógica nunca fez sentido para mim

Mas jamais me deixei ser sentimental

A consciência me prega peças comuns

Tão racionais sem qualquer explicação

Penso tanto e calculo cada centímetro de chão

E tolero que o meu pecado de estimação me acompanhe 

Valorizando sentimentos que não nascem no meu coração

Rejeitando a minha própria trajetória.

 

Eu quero desistir

E agora estou um pouco mais sozinha

Uma das cordas que me prendiam se partiu

E eu não posso remendar as suas pontas, porque não vejo mais o cais.

 

Sombras me cercam enquanto eu durmo

As sinto, mas não as vejo

Apenas esperam que eu dê atenção às suas vozes

Elas me chamam e eu rezo para se afastarem

Mas se vêm de mim, como vão embora?

Vivem na minha mente e se alimentam do meu coração

Parece que eu não tenho futuro.

 


As Moiras brincam e se divertem com o meu destino

Não devia ter dado esse poder a elas

E as sombras apagam o que eu ergui

E vejo desmoronar as minhas muralhas

Tão indefesas.

 

Tento me equilibrar em um único alicerce, pois o outro se partiu

Apenas pude assistir enquanto ruía

E se desfez metade do significado de tudo

Virou poeira na minha existência.

 

Meus olhos ainda me traem

Porque metade de mim não tem mais futuro. 

domingo, 14 de fevereiro de 2021

Ilda

 A mãe abriu a janela: o dia não estava quente, mas a sala, abafada. Ilda olhou a mãe por alguns segundos. Entrando por todo ambiente, o vento divertido voava os fios dos cabelos da mulher que não eram presos pelo coque. Agitava-lhe as saias e dava um ar divertido.

Ao sentir uma coceira na finíssima coxa esquerda, Ilda percebeu um mosquito. Soube logo que o inseto só entrara por a janela estar aberta. Pediu à mãe que a fechasse. Podiam ligar o ventilador. A mãe recusou a oferta.

Ilda já tinha espantado o mosquito, contudo, teimoso, voltou e picou-lhe agora o braço, também esquerdo, bem no sinal da vacina. Agora, conseguiu matá-lo, não antes dele deixá-la com um inchaço como lembrança. Ele morrera, mas também a marcara.

Voltou a pedir à senhora sua mãe que por favor fechasse a janela. A mãe concordou. Fechou-a. A sala, depois de alguns minutos, voltou à situação inicial (abafada). Ilda ligou o ventilador. O vento, antes brincalhão, era agora sincronizado. Antes fresco, agora quente. Não era a mesma coisa.




A mãe saiu então para a varanda e se sentou no banco. Ilda foi atrás dela e a encontrou de olhos fechados, cabeça levemente erguida e com um suave sorriso no rosto. O vento, este da varanda, não o do ventilador, não o comprado numa loja da cidade, o vento era fresco e selvagem, enquanto sutil e delicioso. Hortelã! Parecia o chá de hortelã que a mãe lhe fazia. Quando o de caixinha, não tinha o mesmo sabor do que vinha da planta do quintal da avó.

Ilda percebeu um mosquito perto da mãe. Esta também o notou. Espantou-o e continuou ali. A mãe não ligava para os mosquitos. O vento era mais valioso por ser mais saboroso.

A garota, então, entrou, desligou o ventilador e sentou ao lado da mãe e fechou os olhos. Percebeu o que talvez a mãe sentia: a sensação deliciosa do toque leve e saboroso do vento. Levantou sutilmente a cabeça, espantou um inseto qualquer e sorriu.




Nosso dia num final de semana

 As janelas rangiam pelo vento que chicoteava as paredes medrosas da casa. As cortinas se rendiam às ordens da tempestade impiedosa e voraz. Era uma surpresa da natureza tamanha tempestade, já que os jornais noticiaram na previsão que o tempo estaria quente e o céu estrelado. Todos os planos foram por água abaixo, e a chuva encarregava-se de que isso não fosse apenas uma conotação.

Papai estava com medo, mas queria demonstrar coragem. Mamãe não tinha medo, mas queria demonstrar submissão. Nós estávamos apavorados e fazíamos questão de demonstrar a verdade. Éramos os únicos. Kate não sentia nada. Era destemido, como a mãe. E vaidoso, como o pai. Eu disse a Nora que aquilo lembrava um filme de terror. Ela mandou eu me calar, você sempre tenta me assustar. Só fala tolices. Entretanto, Kate confirmou e senti Nora arrepiar-se. Kate não mentia. Nunca, jamais. E eu, sempre. Adorava as mentiras. Não que assim fossem mesmo. Eu gostava de mudar as coisas para assustar. O problema era quando mamãe descobria. Eu sempre levava uns puxões de orelhas depois disso. Um absurdo simplesmente.



Sendo que nada disso é realmente importante. O que vale aqui é que desde que chegamos todos não fizemos nada daquilo que queríamos fazer. Estava aqui a barraca de camping, mas não acampamos. Estavam aqui as roupas de banho novas, mas não entramos no lago. Talvez eu use a minha na chuva. Tem inclusive as bicicletas, papai jurou que abriria mão do sedentarismo, mas não pedalamos em nenhum dia. Às vezes acho que ele está gostando de sermos obrigados a ficar na casa por causa do mau tempo.

O tédio me alcançou ontem pela manhã, assim que acordei e percebi que a viagem seria um fiasco. Aqui não tem nem mesmo televisão. Kate trouxe consigo seus livros, ele não os desagarra. Nora não queria falar comigo. A mãe e o pai ainda dormiam, e eu estava que era somente tédio. Tédio. Tédio. Até a palavra é tediosa, de tão sem graça. Paroxítona, terminada em ditongo decrescente. Não que eu entenda de Língua Portuguesa, mas fiquei de recuperação no último ano e tive de decorar tudo isso. Palhaçada. A mãe disse que eu não mais viajaria com a família se não melhorasse as notas. Fez Kate estudar comigo todos os dias por quatro horas consecutivas. O maior tormento da minha vida.

Entretanto, agora, nesse instante, enquanto a casa digladia com a natureza imponente e forte, enquanto a casa insiste em manter-se de pé, enquanto a casa mostra-se teimosa e louca, nós estamos aqui. Ai, ai, como papai está com medo. Chega a ser engraçado. A cada trovão aperta a mão de mamãe. Kate dormiu. Ignora totalmente tudo o que está acontecendo. Acho que o telhado irá desmoronar a qualquer instante. Nora grudou em mim e nos envolveu em um grosso edredom, apenas nossas caras estão do lado de fora. Não está frio, não. É apenas o pavor tão pavoroso que sentimos em nossos ossos.

De repente: um barulho alto e confuso; um ronco tremelicante que pareceu ser enviado por Hades. Nos olhamos, Nora e eu, e ela caiu na gargalhada. Eu estava com fome. Tanta, tanta, que parecia um monstro vindo nos assustar. Que fome avassaladora essa minha. Tínhamos pensado em pedir uma pizza, mas duas coisas nos fizeram mudar: primeiro a chuva e segundo o telefone. Não havia sinal e nem sabíamos o número de qualquer pizzaria. Além disso, mamãe estava irredutível. Não queria passar o final de semana na cozinha. Pareço uma escrava enquanto vocês se divertem. Mamãe é tão exagerada. Papai sempre diz que a mulher deve cuidar da família e que ele, por ser homem, deve protegê-la. Mas isso eu não entendo, já que papai é tão medroso.

Uma vez falei isso com mamãe e ela me garantiu a mim que os corajosos sentem antes medo e só conseguem ser corajosos por enfrentá-lo. Concordei, mas não consegui lembrar de nada assim. Eu ia perguntar ao pai, mas mamãe mandou eu me calar e parar de questionar questões adultas. Achei interessante quando ela disse “questões adultas”. Como uma questão pode ser adulta se nunca foi criança? Hahaha... Mamãe pensa cada ideia diferente.

Apesar de tudo isso, estou feliz que todos estejamos aqui. Mamãe jurou há alguns anos que não mais voltaria. A casa trazia lembranças que queria esquecer por não poder recuperar. Acredito eu que seja por isso que sejam lembranças. O bom é que ainda assim mamãe se deixa convencer e pelo menos às vezes visite a casa. A vez anterior, Nora era bem pequena e Kate um pouco mais novo, e eu como agora. Como sempre.  Eu consegui brincar bastante com Nora, mas Kate só fazia me ignorar. Ah, como ele me faz raiva. A irritação me domina e fico quase sem controle. Ainda bem que mamãe, assim como Kate, não mente em qualquer hipótese verdadeira possível e imaginavelmente real. A mãe me garantiu num certo dia que uma qualidade minha é a benevolência. Kate quase se engasgou com um pão e o ingrato começou a dedurar pequenas malevolências de minha autoria. Não me importei. Mamãe sempre acerta. Ela sempre foi maravilhosa. Seus carinhos e sua gargalhada. Gostava quando era menor e me contava histórias. Sinto saudades das coisas menores e comuns. 



Há algumas horas mamãe disse que queria ir embora. Não estava confortável. Disse a papai, que concordou. Nora mandou eu me esconder para ver se mudavam de ideia. Nós estávamos bem. Simplesmente. Mas tudo bem. Aceitei a ideia bem-vinda e, me desembolando dos embolos da coberta, corri corredor acima para os degraus do fundo que iam ao sótão. Foi então que Kate despertou, papai chorou e mamãe decidiu fazer as malas para partir de vez. Por que concordei com o pensamento tão descabido de Nora? Ela não puxou a inteligência de Kate. Por isso a desculpo. Se Kate não me ignorasse tanto, a modo de irar minha irritação adormecida, diria que eu deveria me comportar bem. Pena que não me disse, e só pensei nisso já quando corria. Nunca tive ideias acertadas tão rápidas quanto as de Kate.

Ao voltar, tudo já estava pronto. Mamãe, em sua aceleração desenfreada, já logo tinha organizado as bolsas e papai já as guardava na mala do carro enfrentando como um guerreiro apavorado a chuva que dançava em ondas ventosas do vento implacável. Mais rápido que da penúltima vez que estávamos todos aqui. Eu não me lembro bem da partida, só de apenas acordar eu depois de ter dormido na escada que vai do sótão ao corredor de cima. Brincávamos Kate e eu. Nora brincava da barriga imensa de mamãe. Depois, esqueci. Ouvi as lágrimas de mamãe, senti o choro de Kate e olhei o medo de papai. Depois, esqueci. 



Da vez seguinte que estávamos nós aqui, nós todos, Nora já tinha saído da barriga de mamãe e Kate estava muito maior que eu. Na verdade, sempre foi maior, porque eu era caçula até Nora vir. Agora sou do meio. Fiquei muito feliz quando chegaram. Kate foi o primeiro a me visitar e me ver, mas apenas me olhou fundo para me ignorar. Kate chorou e mandou não contar a Nora, mas que eu a divertisse. Virou as costas e saiu. Já mamãe e papai nem me olham. Parece que não estou aqui. Mas me ouvem, eu sei.

Todos entraram no carro. Mamãe se despediu da casa olhando antes de entrar, mesmo com a chuva. Papai entrou desesperado pelos trovões. Ele me diverte tanto. Nora me mandou um beijo e eu a ela. Kate olhou pelo vidro do carro e me deu tchau. Eu olhei daqui. Por que não posso ir até lá e ir para casa? Mas vou esperar até que mamãe decida voltar. Espero que esteja sol para que fiquem felizes comigo e eu possa usar minha roupa nova de banho no lago.

Desprimoroso

 Uma... duas ... três... quatro...

 

Perdeu as contas

O barulho das gotas o distraiam entre um e outro trago

Por fim, o último.

 

O puxou, saboreou, soltou devagar

Perdeu-se na dança elaborada da fumaça

Ela se enrolava nela mesma

Se esticava e voltava

Descia e subia pelo ambiente

Se espalhou e uma parte dela sumiu ao chegar perto da luz.

 

Apagou o cigarro no cinzeiro e se sentou

A sala era ampla, mas não tinha muitos móveis

O sofá estava ficando velho

O estofado era desconfortável e o forro, desbotado

A mesinha tinha várias marcas de copo e a madeira, manchas

Os outros, não importa saber.

 

À porta, um barulho, uma batida

Atendeu e logo a reconheceu

Não que soubesse quem era, e sim de quem era.

 

Os lindos grandes olhos amendoados

O cabelo claro e com cachos irregulares. Lindo

Magra e alta para a idade

Nenhuma palavra.

 


Entrou sem ser convidada, pôs em cima da mesa uma pequena bolsa que trazia consigo

Abriu-a e começou a vasculhá-la

Achou o que queria e estendeu a ele

Não chegava a ser uma carta

Era um simples bilhete, dobrado e anotado em uma folha comum de caderno

Nele, poucas palavras: "Tudo acabou, sem dor. Agora está bem."

Após o ler, amassou-o e desabou no velho sofá.

 

A menina o olhava esperando uma reação

Qualquer que fosse

Enquanto isso reparava no cabelo dele, que começava a embranquecer

As roupas eram surradas e ele precisava cortar as unhas, dos pés e das mãos

A barba era totalmente falhada e estava por fazer, como tudo ali

Não havia nada concluído, tudo era pela metade

A vida daquele homem era metade

A dela, apesar de uma criança, era completa

Era bonita.



 

Ele tentava digerir e perceber o quanto aquela breve mensagem viria a interferir em sua vida

A menina era filha dela, que amara quando jovem

A mulher que ele abandonara para o nada de uma vida desregrada e inútil

Agora, aquela linda mulher também de olhos amendoados e cabelos claros de cachos irregulares jazia

Jazia em algum lugar escuro e esquecido

E parecia a ele que fora enterrado com ela.

 

Contudo, o bilhete vinha de outras mãos

Não sabia de quem porque não apresentava assinatura

Só podia desconfiar.

Bittencourt.

             Sempre quando fecho os meus olhos tenho a sensação de tocar você. Sinto o mundo se mexer de uma forma diferente, como se estivesse mudando sua própria rota.




Tudo porque um dia eu acordei e mesmo sem saber, minha vida tinha sido tirada completamente de seu eixo natural. Eu estava acostumada com a sua presença, mesmo longe. Eu podia te ver, te olhar, tomar conta de você, e estar distante, tudo ao mesmo tempo. Porém, não fui eficaz o suficiente para notar que você era tão infeliz, quanto eu longe de você.

Pelo menos uma vez o mundo poderia parar e o tempo voltar para mim, ou para você. Independente de tudo o que aconteceu não consigo negar o quão estúpido você foi. Eu continuo aqui, continuo viva. E você?




Depois deste tempo, de todos estes dias, eu me pergunto: o que eu faço com tudo o que eu guardei? Guardei lembranças, guardei sonhos, planos e um sentimento lindíssimo. Mas o que faço agora? Entrego tudo isso a outra pessoa, ou deixo morrer em silêncio? Não posso entregar para ninguém porque era tudo para você. Ao mesmo tempo, não quero que morra, pois são coisas demasiadamente preciosas.

Isto me dá ojeriza.

Sinto medo de perder outras pessoas, mas não quero que percebam. Preciso demonstrar força. O dia demora a passar, ou passa depressa demais.

Perdi as contas de quantas pessoas me mandaram esquecer, mas por que para elas tudo é tão fácil? Assim, parece que eu revivo toda esta situação porque quero. Talvez eu queira.

Contudo, cansei. Cansei de viver à sombra do que não existe mais. Vou escrever sobre outra coisa que não seja você e toda amargura que me causou.  Estou me divorciando deste sentimento inútil e sedutor. Preciso acordar, eu posso.

            Em um segundo o mundo para. Em um segundo ele vota a se mover de forma leve e sutil, contudo, talvez não da forma que gostaríamos que ele girasse. Todavia, em algum lugar dentro de mim, de alguma forma, eu sei. Eu posso e vou continuar.

A taça, a estrada e o sussurro

 O dia continuava bonito, como sempre naquela estação.

O vento era fresco e o sol, suave.

O céu estava de um azul intenso, mas com muitas e lindas nuvens que mais lembravam macios chumaços de algodão.

Em meio a isso, uma estrela solitária brilhava lembrando que o fim da tarde se aproximava.

Adormeceu junto às árvores depois de comer tudo o que continha numa cesta que antes estivera repleta de deliciosas guloseimas.


De repente, acordou.

O tempo mudara completamente.

Mais parecia ser um outro dia inteiramente oposto àquele visto antes.

O céu escurecera e agora nele habitavam muitas nuvens negras e aparentemente pesadas que demonstravam a qualquer momento transformarem-se numa chuva torrencial.

Esfregou os olhos e observou o ambiente a sua volta.

Não compreendia simplesmente.

Recolheu as coisas e apressado tomou a estrada para casa.

Lembrou da bicicleta e voltou para buscá-la.

Como poderia esquecer?

A havia deixado encostada a uma árvore um pouco atrás daquela que se abrigara para dormir.


Quando montou na bicicleta, a chuva começou a cair.

Mesmo no início, os pingos eram grossos e fortes, assim como frios.

Conforme pedalava, mais a chuva aumentava a ponto de atrapalhar a visão.

Não conseguia enxergar mais de dois metros à frente.

Abruptamente a bicicleta parou, fazendo a parte traseira levantar e ele cair.

Por cima, o objeto.

Pela velocidade, pela atrocidade, sentiu-se sem ar por longos segundos.

Quando conseguiu se erguer, percebeu que a roda da frente entortara e de nada mais servia.

Largou a bicicleta no canto da estrada e prosseguiu a pé.

A chuva continuava impiedosa e o frio, iminente.

 

Passados 10 minutos, ainda faltariam 25 para chegar a casa, por estar caminhando, viu uma silhueta vindo a seu encontro.

Notou então que era um velho curvo e aparentemente frágil.

O velho parou e ficou esperando-o.

Quando chegou a pouco mais de quatro metros, o idoso o olhou fixamente e seguiu por uma trilha praticamente escondida por entre as árvores.

Ele olhou o homem que seguia por aquele estreito caminho quando este parou e o olhou o rapaz e, então, voltou a percorrer a fina estradinha.

Tão curioso quanto desconfiado, considerou segui-lo.

O velhote parecia andar muito mais lentamente do que a capacidade lhe permitia.

Pensou, pensou.

A confusão o segurara e o mistério lhe incitava.

Entrou, portanto, na trilha.

 

O guia andava a poucos metros de distância, contudo, ao julgar que iria alcançá-lo, o velho aumentava a velocidade.

Quanto mais se aproximava, mais rápido o velho ia.

Minutos seguidos e os dois estavam correndo.

Em algumas ocasiões achava ter perdido de vista o velho, que apresentava uma energia maior que a do jovem rapaz.

Via então o mirrado senhor passar ligeiramente por algumas árvores e corria, por isso, naquela direção.

Mas, por surpresa, se viu no meio de uma clareira e nenhum sinal do velho.

Notou que a chuva estava agora tão fina que abrilhantava tudo ao redor.

 

Procurou pelo velho, mas nem sinal dele.

Então, a chuva parou de tocar o chão.

Estagnou no ar e se acumulou em um ponto fixo.

Aquilo o surpreendeu e maravilhou ao mesmo tempo.

A chuva agora era uma espécie de estrela, ele não sabia dizer, mas a tocou.

Quando fez isso, sentiu seu corpo ser arrastado em uma velocidade incrível e a floresta, o campo, a cidade, o mundo passarem por ele sem que conseguisse mover a cabeça para olhar.

Inesperadamente, parou.

Um solavanco tão forte que parecia ter batido numa parede.

Caiu e ficou ali por alguns minutos tentando recuperar o fôlego.

Olhou ao redor e se viu em uma casa.

Uma porta, um sofá gasto, uma criança, uma mesa, um jarro com lindas flores, o velho, um cão, uma janela...

O velho.

O velho!, pensou.

 

Então, a criança veio curiosa até perto dele.

Parecia que nunca tinha visto outra pessoa sem ser o velhote.

Esticou o braço e fez como se fosse tocá-lo com todo o receio possível, mas o toque, no olho direito, foi bruto e o fez gritar.

A criança se assustou e recuou rapidamente para o seu local de origem.

O velho então chegou perto e ofereceu a mão para ajudá-lo a se levantar.

Quando o tocou, percebeu que a mão era firme e o braço forte, e pôde perceber em detalhes a aparência do homem.

Suas rugas tinham rugas, a pele era morena e os cabelos muito brancos, os olhos eram ora azuis ora verdes, a depender da luminosidade, mas o que mais impressionava era a intensidade das cores.

Quando azuis, eram de um tom fortíssimo.

Quando verdes, a mesma coisa.

Mais parecia que mudavam de cor de tempo em tempo, como se fossem das duas.

Além disso, o velho tinha uma barba não muito grande, o que foi quase uma decepção, mas os fios não eram exatamente brancos.

Eram prateados, eram de prata realmente.


O velho foi então até a mesa e pegou uma espécie de taça que estava em cima dela, ao lado de uma jarra de barro.

Entornou um pouco do líquido da jarra e ofereceu ao jovem, que mesmo desconfiado, bebeu.

Ele não sabia que estava com tanta sede, então pediu um pouco mais ao velho, contudo, quanto mais bebia, mais sede sentia, e assim foi até acabar com todo o conteúdo do recipiente.

Ao acabar, o velho se sentou no sofá e ficou observando o rapaz como se esperasse por alguma coisa.

Os olhares do velho o incomodavam, mas teve de suportá-los.

De súbito começou a sentir a garganta coçando insuportavelmente.

Ele pediu água, mas ninguém o atendeu.

Foi se sentindo sufocado e a vista ficando escura, ouvia o cão latir e conseguiu ver ainda a silhueta do velho que permanecia sentado no sofá admirando a cena e a menina que veio se aproximando e se agachou ao seu lado e começou a sussurrar palavras que ele não compreendia.

 

Abriu os olhos e se viu em meio às árvores onde perseguiu o velho antes de chegar à clareira.

- Prossiga. Vá até a clareira.

Procurou ao redor, mas estava sozinho e a menina, dona da voz que ouvia e que sussurrava enquanto ele desmaiava, não estava ali.

Ele tentou não obedecer à voz, mas seus próprios pés não seguiam seu comando, tentou voltar para a estrada, tentou ir para qualquer lado diferente do qual fora ordenado, mas nada acontecia.

Seguiu então para o único destino que lhe era possível: a clareira.

Não estava longe, cerca de duzentos metros à frente.

Ao chegar, diferente de antes, não chovia, entretanto, sem qualquer explicação, na clareira, é apenas nela, era noite.

O rapaz olhava ao redor e via o sol brilhar e o céu como um mar onde as nuvens se tornaram velas navegando por toda a extensão.

Mas não na clareira.

O céu dela era de um negrume estranhamente fantástico.

Parecia que se olhava um pote com o interior negro onde estavam grudados ao fundo inúmeros vagalumes, estes eram as estrelas.

De repente, viu na grama uma pequena pedra brilhante.

- Traga-a para mim, ordenou a voz da garota.

Sem que tivesse qualquer outra opção, ele a obedeceu.

Começou a percorrer o caminho até o local onde acordara há pequenos minutos, mas ao chegar, novamente desmaiou.

Quando despertou, estava com a pedra brilhante apertada nos dedos da mão esquerda.

- Dê-me, mandou a pequena garota.

Enquanto pensava firmemente em não atender à ordem, seu corpo o traiu e colocou-a na mão da sua senhora que jogou a pedra na jarra de barro, cantou sussurros incompreensíveis e virou o resultado do seu feitiço na taça que antes o rapaz bebera o líquido deliciosamente desconhecido.

A garota virou-se ao velho, que agora estava deitado no sofá em um aparente transe profundo, e regou-o completamente com uma água brilhante de caía interminavelmente da taça.

Enquanto espalhava a água pelo corpo, cabelo e barba do velho, a menina continuava a sussurrar as palavras estranhas as quais começaram a ecoar de maneira pavorosa na cabeça do rapaz.

Ele começou a sentir fisgadas no corpo e se sentir enfraquecer.

De repente, o velho não era mais o velho, mas um rapaz de pele morena e cabelos negros compridos e bonitos.

E o rapaz não era mais jovem e sim ele mesmo sem toda a juventude.

Olhou-o no espelho e viu um idoso.

Ainda poderia correr se quisesse, mas a aparência lhe pesava.

A garota se aproximou dele, olhou fixamente em seus olhos e ele foi levado instantaneamente a uma colina de onde avistou uma estrada de terra.

O céu despencava em água e, a muitos metros de distância, ele viu um jovem qualquer cair de uma bicicleta no meio da estrada e prosseguir correndo.

Então, o novo velho desceu a colina e soube exatamente o que deveria fazer.

À calçada

 Sempre adorei o sol do fim da tarde, que não aquece a ponto de nos fazer suar, mas que ainda assim está presente deixando a vida um pouco mais laranja e brilhante, e, algumas vezes, a lua começa a se mostrar tímida e sem brilho, assim como uma estrela solitária em algum lugar alto no céu.



A mesa que escolhi para mim ficava à calçada, o que não impedia de ser bem servida pelo garçom que me atendia. Era um jovem poucos anos mais velho que eu e estava bastante atarefado naquela tarde. Meu café acabou esfriando, sempre me desligo observando as pessoas atravessarem as ruas cheias da cidade. O bonde passa apinhado, as senhoras saem da modista, os senhores dos bancos, alguns se encontram, poucos se beijam, e eu sonho com tudo isso.

De repente fui surpreendida por um acompanhante inesperado, mas nem por isso menos desejado. Eu fui prometida ao primo dele há poucas semanas e rejeitava veementemente a ideia, pois não o suportava. Já aquele que agora era o meu acompanhante sempre me olhava quando eu passava ao seu lado e aos poucos me fez começar a procurá-lo pela rua sempre que eu saia pelo portão de casa. Assim, vagarosa e perfeitamente nos apaixonamos. Eu dormia e acordava pensando em seus belos olhos castanhos e sinceros, acordava pensado na sua voz forte e gentil perguntando como eu passava. Tão verdadeiramente bonito e simples. Eu o olhava e não sabia o que fazer. Perguntou como estava e disse que bem. Pediu uma água e disse que deveria encontrar com pai em alguns minutos, por isso falei que deveria ir, mas ele recusou. Então, ficou.

 


O bonde estava lotado e o calor de todo o dia parecia se acumular naquele pequeno espaço apertado pelas peles das outras pessoas. Não aguentava mais, mas meu destino ficava no final da linha, o que ainda demoraria cerca de vinte minutos e meu pai me aguardava, o que era sinal de ser obrigado realmente a continuar na condução. Apesar de estar na ponta e poder usufruir de um pouco de ar menos quente, a situação era desagradável. Sem aviso, uma mulher bastante gorda sentou-se ao meu lado, o que me espremeu contra o ferro do bonde. Por isso, talvez de maneira rude, levantei desajeitadamente. Pensei que ficaria ofendida pela situação, mas a mulher devolveu a mim um olhar repleto de escárnio, então entendi que fiz a sua vontade. Repudiei a raiva e fixei minha atenção à rua e aos bares e lanchonetes que vivificavam as calçadas e lá estava ela.

De início não estava certo se era ou não, mas algo me confirmava. Pensei em meu pai, pensei no acaso de encontrá-la. Pensei no meu pai de novo. Quando me vi já estava atravessando a rua e indo em direção à mesa em que ela estava. Como era linda! Os cabelos em cachos escuros davam um toque final em sua beleza, como a arte final de um desenho. Era prometida ao meu primo, mas aquele calhorda não a merecia. Talvez eu também não, mas a amava. Olhava para ela sempre que passava por mim na rua, não conseguia simplesmente controlar o impulso. Sentei-me e ela se assustou, mas sorriu em vez de me expulsar. Não sabia o que dizer ou fazer. Minhas mãos estavam suadas e pareciam tremes involuntariamente. Perguntei como ela estava e respondeu-me que estava bem. Não tinha mais o que dizer. Pedi então uma água e comentei que deveria encontrar o meu pai logo. Aparentemente preocupada, ela disse que eu deveria ir então, contudo eu estava onde deveria e queria estar. Portanto disse que não iria e fiquei.



Nos meus detalhes.


Eu vejo o sol no horizonte que não me aquece, que não adianta. Que me traz uma esperança a qual não posso tocar. Que eu não posso experimentar, porque ela não é minha, mas se afastou de mim e se ensurdeceu, o que escolheu. Por mais que eu a chame, ela não me escuta, afinal, escolheu. E meu espírito se encolhe em si e minha verdade se estagna em mim e meu inverno tenta ser colorido nos detalhes.
Eu escrevi uma história de imaginação querendo que a minha real se multiplicasse para florescer num dia de amor. Eu sei o quanto já esqueci a fim de chegar aqui e não desaparecer, porque quando é seu, você não o olha. Quando é do outro, você o deseja. Mas quando se vai o seu, você enlouquece por querer.
Minha luta maior eu desconheço ao pensar que nada dura. Ela, entretanto, se renova e meus planos fracassam e envelhecem sem mim, que já estou no inverno e sinto ele vivo dentro. Mas nada vive nele. Nada em mim.
Eu sei de tudo que já esqueci e que terei de abandonar para não enlouquecer, uma vez que foi e eu o desejo mais agora.
Você me diz palavras para eu acreditar no seu quebra-cabeça infinito e tento tanto juntar todas as incontáveis peças multiplicáveis às quais todos os dias você soma mais. O que nunca termina.
Sujei as mãos com o seu cheiro macio, quando esperançosamente limpava um passado em vão.
Sonhei em acordar do sonho que me prendeu, mas não é possível, não dá. Sempre pensei. Sempre pensei em ser. Sempre pensei em ser para você. Sempre pensei em ser para você aquilo que queria. Não aquela, aquilo. Aquilo que quisesse. Aquilo que buscasse.
Eu durmo, durmo, e acordo de você.